1. |
Analfabetismo astral
03:09
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não leve a mal
meu analfabetismo astral
é tanto nome de planeta
que até de luneta eu me confundo
nem sei qual é o signo que casa com o meu
só sei que eu gosto muito da vizinha
mas se ela for de áries ou escorpião, meu deus
a gente vai brigar e a culpa é minha
quem mandou
desprezar o horóscopo
não tenho o dom
de ler a sorte nas suas mãos
e toda vez que eu tento meditar
me bate um sono incontrolável
a chave que destranca o meu chacra se perdeu
e o meu terceiro olho é meio vesgo
ninguém mais se interessa por artistas como eu
com zero vocação pro misticismo
quem mandou
desprezar o horóscopo
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2. |
Ócio
03:12
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enxugo mais um copo pra esquecer
da nossa falta de assunto
nessas tardes tão monótonas
em meio a outra crise alérgica
tô suspeitando que o pentágono
monitorou nossa inércia
tem um vizinho de binóculos
fiscalizando nosso ócio
nada de novo sob o sol
tudo parado por aqui
na tv só passa futebol
vai me batendo uma vontade de sumir
nada de novo sob o sol
tudo parado por aqui
nós dois de pijama e babydoll
tomando coragem de assumir
que já deu
enxugo mais um copo pra esconder
o nosso excesso de costume
o nosso amor de vagalume
que mais apaga do que acende
tô precisando de um remédio
pra me curar de tanto tédio
um alvará pra me livrar
dessa prisão domiciliar
nada de novo sob o sol
tudo parado por aqui
na tv só passa futebol
vai me batendo uma vontade de sumir
nada de novo sob o sol
tudo parado por aqui
nós dois de pijama e babydoll
tomando coragem de assumir
que já deu
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3. |
Lá vamos nós
04:46
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lá vamos nós
lavar nossas feridas outra vez
cortar os pés
nos cacos do vitral que se desfez
não quero mais
trocar meu sangue ralo pelo seu
deixei pra trás
o incenso que você nunca acendeu
já temos condição
de ver que a vida
desviou
as nossas rotas
mas falta coração
pra despedida
nos restou
carregar nas costas
lá vamos nós
vestir nossos quimonos de cetim
travar mais um
duelo com pistolas de festim
não quero paz
o caos é que mantém nosso xadrez
minha torre cai
derrubo teu cavalo na minha vez
já temos condição
de ver que a vida
desviou
as nossas rotas
mas falta coração
pra despedida
nos restou
carregar nas costas
cada pedaço
cada estilhaço
desse amor
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4. |
Filó
03:13
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nasceu, viveu, casou
nunca andou de avião
que dó
filó
cozinha, lava, passa
tira o pó
acorda os meninos pro café
prepara a marmita para o zé
reza no chão
pede perdão
pelos pecados
que não cometeu
mentiu, fugiu, sumiu
saiu sem direção
ninguém notou
vagou pelas paradas do metrô
perdeu-se no vazio da própria dor
sentiu-se tão só na multidão
deitou no vão, lá vem o vagão
às vezes
dona filó não consegue lidar
com a rotina
de dona do lar
parou, chorou, voltou
com o terço na mão
que dó
filó
cozinha, lava, passa
tira o pó
acorda os meninos pro café
prepara a marmita para o zé
reza no chão
pede perdão
pelo pecado
que vai cometer
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5. |
Mentiras
00:53
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se você lembrar da minha voz
e ceder outra chance pra nós
dessa vez eu serei mais fiel
do que todos os homens no céu
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6. |
Sinceras
02:20
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eu prometo mudar o meu jeito infantil
e fazer tudo aquilo que você me pediu
mentiras sinceras
são fáceis de se acreditar
se um dia você me contar
que já pôs outro no meu lugar
vou fugir desse plano carnal
vou virar ermitão no nepal
eu prometo mudar o meu jeito infantil
e fazer tudo aquilo que você me pediu
mentiras sinceras
são fáceis de se acreditar
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7. |
Corpos
04:31
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passo todo tempo
a tarde inteira à toa no sofá
um peso nas costas
não me deixa levantar
não me reconheço mais
na minha foto do crachá
o espelho de casa
se recusa em me mostrar
tenho a sensação
de haver outra pessoa presa aqui
um hóspede estranho
que não me deixa dormir
tento resistir à tentação
de ser mais um troféu
no colo dos pais
embrulhado por um véu
no quarto sem cruz
me falta o ar, perco a visão
o medo conduz
o ritmo da pulsação
saliva e suor
misturam-se ao pranto que cai
na garganta um nó
será que essa crise não vai
passar
tenho a sensação
de haver outra pessoa presa aqui
um hóspede estranho
que não me deixa dormir
tento resistir à tentação
de ser mais um troféu
no colo dos pais
embrulhado por um véu
no quarto sem cruz
me falta o ar, perco a visão
o medo conduz
o ritmo da pulsação
saliva e suor
misturam-se ao pranto que cai
na garganta um nó
será que essa crise não vai
passar
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8. |
Sussurro
03:19
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te acalma meu bem
que a gente ainda tem
muito chão pra rodar
é só o começo
no ano que vem
alguém de nós dois
vai sorrir ao lembrar
desses tropeços
pode tirar
as coisas do lugar
tudo que importa
eu já guardei no peito
deixa pra lá
essa história de sofá
aqui no chão
já tá perfeito
é duro lidar
com toda aflição
de apostar no talvez
é mar aberto
se o barco virar
aperta minha mão
a gente rema outra vez
até dar certo
pode tirar
as coisas do lugar
tudo que importa
eu já guardei no peito
deixa pra lá
essa história de sofá
aqui no chão
já tá perfeito
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9. |
Bichano
03:23
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bichano viveu como rei
até não viver mais
perdeu uma vida
porque nunca olhava pra trás
foi pego em cheio
pelo motorista do gás
fechou para o mundo
seus olhos de gato sagaz
toda manhã
trepava no muro pra tomar um sol
bola de lã
caçava rolinha, pardal, rouxinol
fazia a alegria
de toda criança da quadra
morava na rua
sozinho, sem medo de nada
bichano viveu como rei
até não viver mais
perdeu outra vida
porque cochilava demais
caiu do telhado
enquanto sonhava em paz
fechou novamente
seus olhos de gato sagaz
naquela vez
sentiu que sua hora estava por um triz
já foram seis
restava uma chance pra ser feliz
fugiu pra bem longe
com a gata do prédio da frente
na última vida
bichano viveu como gente
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10. |
Obsoleto
04:17
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tô confuso
com todas essas telas
abri vinte janelas
mas ainda não vi sol
tô perdido
no meio dessa gente
que não sabe quem sou
mas insiste em me contar como se sente
tô carente
preciso ser ouvido
você nem levanta a testa
quando conversa comigo
tanta tecla pra teclar
faltam olhos pra notar
teu corpo nu
matéria humana obsoleta
relíquia de um passado cru
tô cansado
de todo esse teatro
capricho no riso postiço
pra sair bem no retrato
tô cismado
com a pulga atrás da orelha
com tanta gente feliz
que faz tudo quando e como dá na telha
tô com medo
do meu espelho preto
que brilha em minhas mãos
pra tirar nosso sossego
tanta caixa pra checar
faltam olhos pra notar
teu corpo nu
matéria humana obsoleta
relíquia de um passado cru
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11. |
Ciúmes da Bahia
04:49
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não quero mais
que um minuto do seu tempo
pra registrar
teu sorriso desatento
para guardar na memória
cada tique nervoso
do teu rosto manhoso
eu tô com ciúmes da bahia
que todo ano separa nós dois
eu tô com ciúmes da bahia
que te escondeu sem dizer onde foi
não quero mais
que um sussurro no ouvido
pra bagunçar
com meus cinco sentidos
pra acabar com o vazio
que eu levo no peito
meu encaixe perfeito
eu tô com ciúmes da bahia
que todo ano separa nós dois
eu tô com ciúmes da bahia
que te escondeu sem dizer onde foi
eu tô com ciúmes da bahia
que sempre te rouba
mas devolve depois
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